Quem foi Michael de Freitas?
Como revela Patrick French, na sua extraordinária biografia de Sir Vidia Naipaul, "The World is What it is", a reportagem de Naipaul sobre Michael Abdul Malik, também conhecido por Michael X, mas Freitas de seu verdadeiro nome, é um dos melhores textos de não-ficção do Nobel da Literatura de Trindad e Tobago.
Para Magnus Linkater, editor do Sunday Times Magazine, o artigo não é mais do que " um dos melhores que publicámos durante a minha passagem por esse posto".
Apesar de praticamente desconhecido no mundo lusófono, Michael de Freitas (1935 - 1972), filho de um logista português da Madeira e de uma "bajan" - natural de Barbados, foi o mais conhecido natural de Trindad e Tobago, nos anos 1960, nas Ilhas Britânicas. Depois de abandonar a família e emigrar para a Europa, Freitas fez um pouco de tudo no sub-mundo londrino, de proxenta até homem-de-mão de alguns poderosos. A época era a dos distúrbios nos bairros de emigrantes das Caraíbas, de várias cidades inglesas. E é assim que Freitas se vê, de um momento para o outro, promovido a porta-voz da comunidade negra imigrada, apesar do seu passado no mundo do crime.
Durante este período de agitação social, Malcolm X, líder da Nação do islão nos EUA, visita a Inglaterra e Micheal de Freitas muda o nome para Michael X e auto-intitula-se líder do movimento Black Power na Grã-Bretanha. O passo seguinte é a fundação da comuna Black House. A imprensa, ávida de líderes sociais à imagem da América, torna-se responsável pelo poder mediático que Michael X rapidamente ganha na sociedade inglesa. Nomes como Rolling Stones, John Lennon e Yoko Ono juntam-se ao das várias estrelas que fazem parte do seu grupo de amigos e filantropos. Estes últimos chegam mesmo a doar uma porção do seu cabelo para ser leiloado, para fundos da Black House.
No início dos anos 1970, Michael X agora de novo conhecido por Michael Abdul Malik, a braços com problemas com a justiça na Grã-Bretanha, estabelece a sua comuna Black House na sua ilha natal, desta vez para prosseguir a luta dos seus irmãos negros contra o poder económico e social dos descendentes de emigrantes indianos, de onde V. S. Naipaul é originário.
Mas a aventura política de Michael atinge os seus limites quando ele próprio assassina um dos elementos do seu Black Liberation Army, Joseph Skerrit, depois de este se recusar a assaltar uma esquadra e a assassinar os polícias ali de serviço. Em 1972, Michael Abdul Malik é julgado e condenado à morte por enforcamento, em Port of Spain.
No seu livro, "Guerrillas", de 1975, V. S. Naipaul baseou o seu personagem Jimmy Ahmed em Michael de Freitas, X e Abdul Malik.